O objetivo deste trabalho é entendermos o caminho crístico que leva a Deus e com isso compreender aquilo que é chamado de consciência crística.
Podemos definir consciência crística como o conjunto de valores sobre as coisas deste mundo que Cristo possuía. Aquele que alcança a consciência crística, ou seja, que possui os mesmo valores que o mestre nazareno possuía passa, então, a ver as coisas sob o mesmo prisma que ele via.
Por isso, o objetivo deste trabalho é estabelecer esse prisma nos mais diversos aspectos da vida humana. Estabelecida estas bases, o ser humanizado pode, então, promover a sua mudança, ou seja, entender as situações da vida como Cristo entendia.
Esse estudo nem seria necessário, pois se Cristo é o amor em ação, o Verbo, bastaria apenas ao ser humanizado trocar todas as múltiplas interpretações que tem das coisas do mundo pelo amor. Se ao invés de ver bom e mau ou certo e errado nos acontecimentos da vida e visse apenas amor, já teria alcançado a mesma visão que Cristo tinha das coisas.
Viver com a consciência crística é viver com o amor. O problema é que os seres humanizados não conhecem o amor que Cristo pregou. Mas, por que não conhece?
O amor crístico é algo universal. É vivenciado dentro de verdades universais. Essas verdades não estão presentes na visão humana das coisas porque os seres humanizados vivem em um mundo relativo, ou seja, em um mundo que é regido por valores individuais e transitórios que são fundamentados pelo egoísmo, no amor a si mesmo acima de tudo. Sendo assim, o que precisamos fazer é destruir as ideias humanas sobre o amor de Cristo.
Na verdade, Cristo nos ensinou o que é amar através de ensinamentos, mas os seres humanizados os interpretam a partir de suas próprias verdades que, como já disse, são individuais, transitórias e fundamentadas no amor a si mesmo acima de tudo. Além disso, sempre as usa para ganhar alguma coisa, para ter o prazer, para receber elogios e alcançar a fama, o reconhecimento próprio.
Em resumo, o objetivo desse estudo é desmistificar os ensinamentos de Cristo como conhecidos pelos seres humanizados. Falo em desmistificar porque cada ser humanizado interpretando o amor crístico por seus valores criou mitos que são formados por falsas verdades. Fez isso porque, coadunando a verdade universal com suas próprias verdades, ou seja, dizendo que ele está certo, cada ser humanizado eliminou a necessidade de sua própria mudança.
Coadunando a verdade universal com suas próprias verdades, cada ser humanizado coloca Cristo ao seu próprio serviço, coloca os ensinamentos como elementos para corroborar a sua própria intenção. Transformou o amor crístico em algo humanitário e não universal. Transformou algo que é fundamentado principalmente no doar-se em alguma coisa onde acima de tudo possa receber individualmente, ganhar. Alterando o sentido dos ensinamentos o ser humanizado transformou Cristo em um ser mágico que deve auxiliá-lo a alcançar seus desejos.
Os reis da antiguidade tinham sempre ao seu serviço um grupo de mágicos. Estes homens eram utilizados pelo rei nos momentos onde precisava de ajuda para alcançar seus objetivos individuais. Fazendo porções mágicas, previsões de futuro ou agradando aos deuses, os mágicos eram considerados como elementos importantes para que o rei alcançasse seus propósitos individuais. Foi isso que a humanidade fez com Cristo, seus ensinamentos e amor.
O ser humanizado transformou Cristo num mago da corte onde é o rei e usou os ensinamentos e amor do mestre como instrumentos da sua vitória individual. Dentro dessa visão, Cristo, então, ficou incumbido de fazer mágicas (milagres, interferir nos acontecimentos) para que o rei humano possa alcançar suas vontades, ganhar sempre.
Repare. Ninguém vai a Cristo perguntando o que quer que seja feito pelo Messias; todos vão pedindo que realize o que cada um quer. Por isso afirmo que Cristo para o mundo humano passou a ser o mágico da corte onde o ser humanizado é o rei.
Por isso o objetivo deste trabalho é desmascarar esta visão. Isso é preciso porque não foi essa a missão de Cristo. Ele não veio a esse mundo para servir ao ser humano, mas sim a Deus. É através desse serviço que Cristo serve ao ser humano.
Dentro de sua missão serve ao ser humano, mas não como instrumento para alcançar o que cada um quer ou gosta. Serve como guia para mostrar o caminho para chegar a Deus. Ele não veio para fazer o que cada ser humanizado quer, mas para ensinar a cada um a respeitar a vontade de Deus (‘seja feita a Vossa vontade assim na Terra como no céu’).
É preciso mudar muita coisa a respeito da compreensão que o ser humanizado tem de Cristo. Por exemplo: a passividade e candura do Mestre. Onde está a passividade em quem pega o chicote para meter nas costas daqueles que estão contra a lei de Deus? Onde está a candura naquele que diz aos seus apóstolos: ‘vermes, até quando vou ter que aguentar vocês’? Ou ainda naquele que chama os que pensam diferente dele de hipócritas?
São essas coisas que precisamos desmistificar. Cristo foi cândido sim, mas com uma candura espiritual. Isso quer dizer que é cândido com o espírito no mundo espiritual, mas não com o ser humano no mundo material.
Para o ser humano, vendo-se sem misticismo as passagens bíblicas, podemos afirmar que o Mestre não era cândido, pois brigou, ofendeu e bateu em diversos seres humanizados. Fez isso não por maldade ou porque não tinha amor por eles, mas porque sabia que essa era a forma necessária para auxiliá-los a reencontrarem-se com Deus.
Cristo não poderia estar ao lado da humanidade, ou seja, a serviço de suas vontades e desejos individualistas ou do seu amor a si próprio porque sabia que essa forma amar separa o ser do Todo. Também por saber disso, não poderia ter vindo para servir à humanidade como os seres humanizados interpretam o seu serviço. Aliás, na verdade, ele veio para destruir a humanidade que o ser vive e que o afasta do Todo.
Não veio destruir a humanidade fisicamente, acabar com o mundo, mas sim no sentido da visão humana sobre as coisas do mundo. Veio com o discurso que a visão que premia o individual em detrimento do Todo precisa ser abandonado. Veio trazer esse caminho porque sabe que apenas quando o ser universal destruir a humanidade que toma quando vem à carne poderá vivenciar a plenitude de sua própria espiritualidade.
É nesse sentido que esse trabalho pretende desmistificar os ensinamentos do Mestre. Não estamos aqui para acabar com Cristo, dizer que nunca existiu, mas sim para retirar da compreensão de seus ensinamentos os valores que o ser humano atribui (valores que premiam o bem individual) e devolver o sentido do caminho para a união ao Todo.
Jesus Cristo aconteceu na matéria carnal. Os fatos que a humanidade conhece através da bíblia quase todos são realidades, mas a interpretação que a humanidade dá aos ensinamentos é falsa. É a respeito dessa falsidade que se pauta esse trabalho.
É sobre este aspecto que realizaremos esse trabalho. Vamos ler diversos versículos dos chamados evangelhos canônicos e mostrar o que realmente Cristo ensinou e o que o ser humanizado entende que ele ensinou.