“Logo que este se desliga da matéria, cessa toda ilusão e outra passa a ser a sua maneira de pensar”. (pergunta 266)


Há, portanto, um pensamento original que chega à consciência do ser humanizado. Este pensamento deve ser objeto de um trabalho que leve a uma nova forma de pensar. Não uma nova forma qualquer, mas aquela que espelhe a forma de pensar do espírito. Isso se consegue transformando as verdades que norteiam a mente na formação do pensamento.
Todo ser humano vive com um conjunto de verdades ou conceitos. Estes conceitos norteiam a formação dos pensamentos. Se como diz o Espírito da Verdade há dois modos de pensar, podemos dizer que existe um conjunto de verdades que pertence àquele que serve ao mundo humano e outro que guia os seres que vivem na busca da união amorosa com Deus. A reforma, portanto, que o espiritualista tem que fazer para poder aproveitar a oportunidade da encarnação é identificar as verdades que estão em um conjunto e alterá-los para o segundo.
Mas, porque a necessidade da alteração deste conjunto de conceitos é tão importante? Por causa da consequência que cada pensamento traz ao próprio ser.


“Sob as influências das ideias carnais, o homem, na Terra, só vê das provas o lado penoso. Na vida espiritual, porém, compara esses gozos fugazes e grosseiros com a inalterável felicidade que lhe é dado entrever e desde logo nenhuma impressão mais lhe causam os passageiros sofrimentos terrenos”. (idem)


A consequência do pensamento criado pela mente é sempre uma emoção. Se aquilo que o pensamento espelha acontece, a mente cria a emoção do prazer; se não espelha, ela cria a emoção da dor. Apesar do ser humano classificar este prazer como felicidade, não é assim que os mestres entendem esta emoção. Vejamos o que Sidarta Gautama, o Buda, nos diz sobre o assunto:


“Bhikkhus, há esses dois extremos aos quais aquele que abandonou a vida em família e seguiu a vida santa não deve se entregar. Quais dois? A busca da felicidade nos prazeres sensuais, que são baixos, vulgares, grosseiros, ignóbeis e que não trazem benefício; e a busca da mortificação, que é dolorosa, ignóbil e que não traz benefício”. (Samyutta Nikaya LVI.11 – Colocando a roda do dharma em movimento)


Aquele que busca aproveitar a oportunidade da encarnação não deve se entregar nem ao prazer nem a mortificação. Para isso, ele precisa necessariamente alterar o conjunto de conceitos que formam as verdades com as quais a mente interpreta os acontecimentos da vida. Se não fizer isso, as ideias criadas pela personalidade humana levarão necessariamente a vivência de uma ou outra emoção. Somente o ser humanizado que altera este conjunto pode, então, libertar-se da vivência destes gozos fugazes e grosseiros e entregar-se à união amorosa com Deus e viver a felicidade que resulta desta união.