O primeiro elemento que está presente em todo pensamento discursivo e que quando você aceita este argumento o leva à morte é o saber. Não estou falando de sabedoria, mas sim de saber.
Sempre que um pensamento discursivo contém uma informação que é sabida por você e é vivida como real, você está morto. Porque isso? Porque cada coisa que sabe é uma arma que você adquire. Cada coisa, por menor que seja, que saiba, vai implicar em se desarmonizar com o mundo, já que não há duas pessoas que sabem a mesma coisa em gênero, número e grau.
Portanto, saber é o primeiro assassino do ser e, claro, é o mais importante. Isso porque, além de lhe matar é ele que serve como arma. Digo isso porque quando você não sabe alguma coisa sobre um assunto, não o discuti. Não quer provar ao outro que está certo, não desconfia de ninguém. Ou seja, consegue viver a realidade sem nenhum dos atributos que o pensamento confere a ela.
No entanto, enquanto você souber – e não importa qual seja o assunto que esteja sendo discutido – irá querer provar sempre que está certo. Viver desta forma leva à guerra com os outros, em desarmonia e morte para você.
O saber, portanto, é o primeiro assassino, mas o que é saber? Precisamos, quando se fala do assassino saber, tomar cuidado de diferenciar saber de conhecer, de ter conhecimento. Parecem duas coisas iguais, mas são diferentes.
Por exemplo: você pode conhecer toda movimentação necessária de pé, mão e atenção para se dirigir um carro, mas enquanto apenas conhecer esta movimentação não dirá que sabe dirigir. Só quando pega o carro afirma que sabe dirigir. Na verdade, só quando você faz ou pratica alguma coisa é que acha que sabe. Neste momento tudo fica diferente.
Portanto, saber e conhecer são coisas diferentes. Conhecer é ter informações sobre alguma coisa; saber é ter certeza do que é conhecido.
O conhecimento não mata ninguém. Quando você apenas acha que é uma informação é de tal forma, quanto tem o conhecimento que é daquela forma, mas não tem certeza, não precisa provar que está certo. Por isso não entra em desarmonia, não guerreira com o outro. Consegue viver a realidade mesmo através de um processo gerado por um pensamento descritivo sem se desarmonizar.
Por isso é preciso estar muito atento ao pensamento descritivo para ver se ele está lhe trazendo à consciência a ideia de saber ou conhecer. Como distinguir se o pensamento está falando em conhecimento ou saber? Quando ele critica o outro, quando ele afirma que o outro não sabe, quando diz que é preciso provar e comprovar o certo. Esta é a diferença.
Quando você recebe um pensamento que diz que você acha que deveria ser tal modo, este não vai lhe causar mal, pois não vai lhe ferir ou magoar. Agora, quando o pensamento diz que você acha que deve ser de uma forma e a pessoa com quem está se relacionando não está agindo dentro do que quer, esta realidade já entrou num saber, num ter certeza, um precisar mudar o outro. Esse saber, nos mata, nos tira da realidade.
Só mais um detalhe. Reparem que não estou falando em sabedoria. Isso é outra coisa. Estou falando em saber, em conhecer em ter convicção sobre as coisas.
É esse o primeiro assassino: a coleção de convicções que você tem sobre as coisas.
No exemplo da tela do computador que estou usando, quando você tem convicção de que ela é bonita ou feia, utilizou-se de um saber. Se você apenas a achar bonita, mas não lutar contra quem diz que é feia, este pensamento não lhe mata. Deixe-o ir embora que ele não causará problemas.
Participante: você disse que estar em paz é não ter armas.
Exatamente. Todo argumento sabido que você tem é uma arma. Portanto, todo saber é uma arma além de ser o assassino.