Participante: Jesus no Sermão do Monte ensina que devemos agir aqui e agora. Depois diz que o homem sensato é o que segue esses ensinamentos. Mas, o ego humano quer ver nisso uma ficção futura, um objetivo a longo prazo quase impossível de ser alcançado. A lógica da argumentação de Jesus é transparente. Minhas perguntas são: como podemos implementar isso em uma vida? Como fazer nessa vida, nesse século? São perguntas práticas.

A questão de fazer nesse século respondi no trabalho passado: ‘como fazer o desapego ao mundo material nesse século onde existem tantas coisas? Sabendo que as coisas desse século são provas e não benefícios.

O século de hoje não é diferente do passado, apesar da multiplicidade de elementos diferentes. As provas são as mesmas: possessão, egoísmo, individualismo, etc. É a mesma coisa de outros séculos.

Ah, claro que é diferente. Em outros séculos podia se pegar comida nas árvores. Hoje precisamos de dinheiro para compra-la’. Ilusão. Se morar no meio do mato poderá servir-se direto do pé. Só que não quer lá, não é? Porquê? Porque não quer se desligar da internet, do celular, do computador, porque não quer se desligar da televisão.

Como se pode fazer o que é preciso nessa vida? Só há uma maneira: libertar-se do eu, negar o eu. Esse é o único modo de fazer ou como Paulo diz: viver para servir o outro.

O que é viver para servir o outro? É não usar roupa, não ter casa? Não! É despossuir as coisas. Usar tudo, mas não querer ser o dono de nada.

Você não tem uma casa; tem um instrumento de carma. Disso tem notícia pelos ensinamentos dos mestres. Apesar de já ter recebido essa informação, garanto que tranca a porta de noite com medo do ladrão, não é mesmo? Acabou de deixar de fazer, porque possuiu a casa.

Servir ao próximo é estar sempre livre do individualismo: ‘nada é meu, nada possuo, nada quero, nada sei’. Aliás, esse é o lema dos três macaquinhos que ilustram um ensinamento de Buda: não falo, não ouço e não vejo.

A única forma de realizar é através da entrega total de si para o mundo. Quando entrega esse que é hoje ao mundo, vai poder viver quem é na espiritualidade. Hoje você não consegue porque se vê como humano. Ao invés de viver sua realidade, vive a vida humana do personagem.

Quando entrega o personagem à carne, à vida humana, ou seja, vive com a consciência de que vai acontecer o que tiver que acontecer, não se perturbará com nada.  Nesse momento viverá a sua espiritualidade.

Sobre o que Cristo ensinou, ele não falou que não se deve fazer nada no aqui e agora. O que disse no Sermão do Monte foi o seguinte: bem aventurado os que têm fome e sede de fazer a vontade de Deus.

Portanto, não é fazer ou deixar de fazer alguma coisa agora; é estar sempre em conexão com a vontade de Deus. É bem diferente!