“026. Disse Jesus: vês o cisco que está no olho… de teu irmão, mas a trava que está no teu olho, esta não vês. Quando tirares a trave de teu olho, aí poderás ver claramente para tirares o cisco do olho de teu irmão”. (Evangelho Apócrifo de Tomé)
“vês o cisco que está no olho … de teu irmão”
Esta logia complementa a anterior.
Ver o cisco que está no olho do irmão é encontrar defeitos na visão que esse irmão tem sobre as coisas. O “cisco” que o espírito vê nos olhos dos outros é o que ele mesmo chama de “distorção” da visão das pessoas, aquilo que as impede de ver corretamente as coisas, induzindo-as ao erro…
Afirmar que um espírito está errado é o mesmo que dizer que ele não consegue enxergar direito as coisas, que não consegue entendê-las como na verdade são.
“Ver o cisco no olho do irmão” é criticar suas atitudes, seus sentimentos, sua forma de se portar e agir, sendo que estas críticas são baseadas em conceitos próprios, verdades individuais, pois quem conhece as verdades universais dá ao seu irmão o direito de entender as coisas da forma que ele quiser.
“mas a trava que está no teu olho, esta não vês”
A trava que cada espírito carrega em seu olho é a visão distorcida que ele possui das coisas, pois ainda enxerga através dos seus conceitos.
Quando um espírito percebe alguma coisa e coloca sobre ela um conceito pré-formado, não consegue chegar à sua essência, pois está atado aos conceitos, o que o impede de compreender os acontecimentos na sua essência real.
Na verdade, o espírito que assim age não analisa as coisas para poder aplicar-lhes a sua real essência, mas fixa-se em algo pré-determinado.
Os conceitos constituem-se nas diversas leis ou bases que o espírito construiu durante a sua experiência carnal.
As travas são as leis morais, de etiqueta, de sociedade, de comportamento, que o espírito recebe e constrói ao longo de sua vida para criar o balizamento do que é certo ou errado, bem ou mal, feio ou bonito, etc. Entretanto, essas leis não podem ser consideradas como perfeitas ou justas, pois são temporárias: o que hoje é certo, amanhã pode se tornar errado.
Para que uma lei possa ser considerada justa e espalhar a justiça, é necessário que ela seja eterna e imutável, pois, desta forma, sempre haverá apenas um resultado para o mesmo ato. Apenas as leis de Deus resistem a esse quesito.
As leis não são universais: cada povo determina as suas de acordo com seus hábitos e costumes. Por isto, uma pessoa condenada, hoje, em determinado lugar, poderia ser absolvida em outro.
As leis de Deus aplicam-se a todos os espíritos, encarnados ou não, em todos os locais do Universo e, por isso, apenas elas devem servir de base para o espírito compreender as coisas.
As leis de Deus se resumem em uma única: amar a Ele, a si e aos outros. Enquanto o espírito tiver o amor (alegria, compaixão e igualdade) em todos os seus atos, não importa o que ele faça, estará vivendo dentro da lei de Deus!
“Quando tirares a trave de teu olho”
Tirar a trave dos olhos é abolir todas estas leis, estes conceitos impostos em nome do sentimento de superioridade de um sobre o outro, com a intenção de comandar a vida do próximo.
Para que o espírito possa servir de luz para iluminar o caminho dos outros é necessário que siga apenas a lei de Deus e não lhe agregue nenhuma outra lei. Assim fazendo, acabará com os conceitos e poderá enxergar o mundo da forma como ele realmente é, podendo alertar (apenas alertar) seu irmão do “cisco” (conceito) que ele possui.
Retirar a trave do olho é não ter leis morais ou leis sociais, é eliminar tudo aquilo que possa sofrer alterações, quer por abrangência ou temporalidade, para poder enxergar aquilo que é eterno.
“aí poderás ver claramente para tirares o cisco do olho de teu irmão”
Quando o espírito eliminar seus conceitos, encontrará a essência verdadeira das coisas e conhecerá a verdade universal. Neste momento poderá enxergar claramente para servir de orientador a seu irmão.
Sem os conceitos, o espírito não conhecerá certo ou errado, bem ou mal, mas apenas amor e “desamor”, sentimentos positivos ou negativos. Preso às leis, o espírito estará enxergando apenas sob um prisma, o seu prisma e, por isso, não conhecerá a verdade universal das coisas.
Todo conceito é uma lei individual, é o modo determinante da ação “correta”, mas como não existem dois espíritos com conceitos perfeitamente iguais, estes apenas se constituem em uma ótica individual. Querer direcionar os outros pelo contexto próprio, pelo seu “achar”, é querer usurpar de Deus a condição de Causa Primária de Tudo.
Mostrar o cisco no olho de um irmão é ensiná-lo que apenas uma lei deve ser cumprida: o amor universal e não pode esse espírito juntar a esta lei mais nenhuma outra.
Quem reconhece a existência apenas desta lei não tem conceitos e, por isso, não encontra erros, nem mesmo naqueles que ditam o cumprimento das regras humanas.