Esta é a segunda síndrome: a do todo poderoso. Esta síndrome se caracteriza pela imaginação de que existe uma capacidade de agir, mesmo que seja em coisas pequenas.
Ao falarmos que você é incapaz de agir, não podemos nos apegar apenas à ideia de ações de vulto, mas a pequenos detalhes. Ver uma sujeira que está no chão, por exemplo, é uma ação que você não pode executar por moto próprio. É preciso que a vida lhe mostre. Se ela não fizer, jamais você perceberá alguma coisa…
Falo assim porque ver é uma ação. Você não vê a sujeira: a sua vida é ver. Vou contar um caso verídico que pode lhes ajudar a compreender o que estou dizendo.
Uma moça estava vendo televisão muito preocupada porque a sua gata não estava dentro de casa. Perguntou ao marido se ele sabia onde estava a gata e o que ela devia estar fazendo naquele momento. O marido dela lhe disse para não se preocupar com o gato, mas que prestasse atenção na televisão. Ela olhava para lá, mas não conseguia se desligar do problema.
Sabe onde estava o gato? Em cima da televisão. Quando a mulher conseguiu perceber a presença da gata sobre a televisão se admirou pelo fato dela estar olhando para o aparelho e não ter visto o animal que estava em cima dela o tempo todo.
Por causa desta ação, a vida desta pessoa gerou o pensamento que afirmava que ela era uma pessoa incapaz, já que não conseguia nem ver um gato, que não é filhote, que estava na sua frente. O pensamento lhe acusava dela, apesar de estar olhando para a televisão, não via o gato em cima. Por conta da suposição de que ela é capaz de perceber alguma coisa, não conseguiu deixar de viver este sofrimento.
É por isso que não compreender que você não vê, mas é a vida que mostra as coisas, lhe leva a viver o sofrimento.
Participante: eu passei por coisa pior. Fiquei preocupada com o meu filho, pois não sabia onde ele estava. Acontece que ele estava no meu colo. O meu coração disparou por conta do medo dele ter se desgarrado de mim e eu o estava segurando no colo e nem percebi…
A consciência da incapacidade de agir que ajuda a vencer a síndrome do todo poderoso deve alcançar os mínimos detalhes: você não pega, não vê, não ouve, não prova sabor nem cheiro. Você não faz nada. Tudo que lhe é consciente é a vida que faz e se ela não fizer você não vai conseguir fazer nunca.
Outro caso verídico. Uma moça um dia brigou com o seu marido porque ele pulou algo que estava no chão e não guardou o objeto no local certo. Ele respondeu que não tinha visto aquilo no chão. Ela se mostrou extremamente chocada com a resposta dele porque era óbvio que ele tinha visto, pois ela estava vendo aquilo.
Não, ele não podia ver se a vida dele não mostrasse. Como a vida de um é diferente da de outro, uma pode ter mostrado a presença do objeto no chão, enquanto que outra pode não ter mostrado a mesma coisa.
Participante: isso gera conflitos, não?
Sim, a vida vai gerando ideia de conflitos para algumas pessoas por conta da síndrome do todo poderoso. Estes conflitos só se vencem sabendo que você não tem capacidade de ver: a vida precisa lhe mostrar. Se ela não mostrar, nem você nem ninguém verá, pois os humanos não têm capacidade de agir.
Participante: nós achamos que poderia ter sido de outra forma.
Sim, vocês acham que poderiam ter agido de outra forma ou que poderiam ter deixado de fazer: esta é a prática da ação da síndrome do todo poderoso. Mas, a ideia de agir, para vocês, ainda envolve uma ação de vulto. Eu estou falando de detalhes da vida.
Quer ver uma brincadeira interessante para você compreender o que estou dizendo? Coloque cinco pessoas dentro deste ambiente e deixe-os à vontade. Depois de algum tempo peça que eles fechem os olhos e descrevam o ambiente.
Participante: cada um vai ver uma coisa…
Realmente, é isso que ocorre…
Como pode isso? Se todos que estão aqui têm uma inteligência e olhos para ver, porque cada ser vê uma coisa diferente do outro? Alguns acrescentam elementos que não estão no ambiente, outros retiram coisas que estão aqui, outros, ainda, dão destaques a coisas que as demais pessoas não perceberam. Como pode ser isso?
São esses argumentos que vocês têm que usar quando a vida lhes lançar alguma emoção relativa a ação, sua ou de outro. Quando ela disser que algo aconteceu ou não como fruto da ação de alguém.