“Deus lhe impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns é expiação; para outros, missão. Mas para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação” (O Livro dos Espíritos – pergunta 132).


O Espírito da Verdade ensinou que o fundamento de uma encarnação é levar o ser a atingir à perfeição. O caminho para essa elevação se dá de duas formas: por missão ou expiação. Missões são trabalhos pedidos pelo ser para executar quando na carne; expiação é sofrer as consequências de algo que se causou anteriormente.
Para passar pelas consequências de atos cometidos anteriormente, o Espírito da Verdade afirma que é necessário sofrer as vicissitudes da existência corporal. O vocábulo vicissitude é definido no dicionário como “mudança ou variação das coisas que sucedem” (Mini Dicionário Aurélio). Portanto, a expiação consiste na mudança ou sucessões de acontecimento na vida de um ser.
Como expiar sem que os acontecimentos alterem-se constantemente? As variações dos acontecimentos são consequências de algo que o próprio ser fez anteriormente e não um ato praticado por outro para feri-lo, magoá-lo ou contrariá-lo. É Deus, Causa Primária de todas as coisas, que comanda essas variações, pois elas são o fundamento da existência.
O ser que imagina que vêm à matéria carnal para ter uma vida estável, ou seja, para passar apenas por situações que lhe são confortáveis, certas, justas, nega-se a expiar seus atos anteriores. Não cumprindo um dos fundamentos da encarnação, não alça a perfeição, objetivo primeiro da existência carnal do ser universal.
O errado é uma vicissitude, uma variação do certo do ser, que deve ser vivenciada pelo espírito para alcançar à perfeição. Da mesma forma o sujo, o feio, o desarrumado. Todas essas situações são comandadas por Deus, Causa Primária de todas as coisas, com o objetivo de fazer o ser chegar à perfeição.
No entanto, todas essas vicissitudes nascem das verdades individuais do ser. Nada pode ser considerado errado sem que comparado a outro que é definido como certo. Apenas quando houver um padrão que determine o certo, poderá o espírito qualificar o acontecimento como errado.
Assim, se um dos objetivos da encarnação é passar pelo errado sem apontar erros, é necessário que o espírito abandone os seus “padrões”. Enquanto eles estiverem presentes não haverá como se atingir à perfeição.
O espírito não vem à carne para atingir o gozo do seu querer, mas para amealhar bens no céu, ou seja, suportar as vicissitudes da existência material. Apegar-se aos conceitos (o que acha “certo”) como leis que cujo cumprimento é necessário para a felicidade, é negar a expiação.
Todas as situações de uma existência onde os desejos do ser não são contemplados são uma vicissitude para ser suplantada com o objetivo de atingir á perfeição. O desemprego, a falta de bens materiais, a ausência de saúde, são consequências de atos que o espírito praticou anteriormente.
Orar a Deus pedindo a suspensão da expiação é negar-se a passar pela vicissitude que pode levar à perfeição. O fundamento da existência do ser consiste-se exatamente nessa etapa da encarnação. Quando não há vicissitude, ou seja, não há variação do querer do ser, não existe caminho para a perfeição.
Passar por essas situações mantendo a fé (confiança e entrega absoluta a Deus) e a felicidade universal é o caminho que leva o ser à perfeição. Foi para passar por esses momentos que ele veio à matéria carnal e, por isso, o Amor Sublime de Deus não deixará de causar essas etapas na sua vida. Não fazê-lo poderia proporcionar ao espírito a chance de acusar a Deus de não lhe ter dado o que precisava.
Esse Amor se representa em fazer o que é preciso para que um ser evolua e não simplesmente dar a ele o que deseja. Deus gostaria de contentar o espírito lhe dando o que deseja, mas sabe que esse caminho não leva à elevação espiritual (perfeição). Como um pai material que utiliza todos os meios para que o filho compreenda a necessidade de fazer o que deve e não o que quer, Deus causa os acontecimentos que contrariam o ser (vicissitude), pois sabe que isso é importante para o seu futuro.
Na verdade Deus é obrigado a agir dessa forma não por desejo próprio, mas porque o filho reluta em buscar a sua elevação. Todas as vicissitudes nascem de um momento onde o ser buscou a sua satisfação individual e não “amou a Deus acima de todas as coisas”. Se o espírito não encontrasse erros em situações anteriores, ou seja, abrisse mão dos seus desejos, jamais o Pai teria que agora gerar uma vicissitude.
É Justiça Perfeita que dá a cada um de acordo com as suas obras. Todas as situações que o espírito não consegue alcançar à felicidade são causadas por situações anteriores, onde preferiu buscar o prazer individual. Elas não nascem do desejo do Pai, mas da ação anterior de cada um.
A perfeita compreensão de Kardec sobre a expiação consiste-se na necessidade que o ser tem de passar pelas situações que contrariam os seus desejos durante a encarnação para chegar à perfeição. Não como pena, mas como a ação de um Pai que é Justiça Perfeita e Amor Sublime.